domingo, 18 de janeiro de 2009

Substituição Tributária e Crise Mundial - Entenda como esses fenômenos afetam seus negócios

Por Akio Uemura


“Tributos” e “crise” são duas palavras que costumam deixar os comerciantes de cabelo em pé. Porém a combinação delas pode ser ainda mais dramática.
Este ano a Substituição Tributária, instituída em 1993, garantiu presença forte nas contas dos pequenos comércios da zona leste da cidade de São Paulo. Porém este regime é desconhecido para a maior parte das pessoas.

Kendi Higa, 36 anos, dono de comércios do ramo de bijuterias, declarou não ter conhecimento do que viria a ser Substituição Tributária. Mas percebeu um ligeiro aumento no preço das mercadorias no primeiro semestre, que não foi repassado para os clientes. Outra entrevistada que também não enfrentou grandes dificuldades em não repassar os valores foi Lúcia Maeda, 35 anos, proprietária de papelarias. Ela também demonstrou saber sobre o assunto de maneira geral.

Porém Dilma Silva Chagas, 45 anos, comerciante de produtos de utilidades domésticas, possui um profundo conhecimento sobre Substituição Tributária, até porque seu planejamento foi totalmente alterado por esta cobrança. Ela adotava uma prática rarefeita nos novos comércios, a compra em empresas fixadas em outros estados.

Este procedimento exige uma postura mais cautelosa por parte dos varejistas, afinal as compras interestaduais só são viáveis em grande quantidade, há um prazo de entrega mais demorado, problemas com a integridade das mercadorias e cobrança de frete.

Representantes de grandes distribuidoras, como Rita Ortega, LR Multimídia (sediada no estado), e Cleonice Machado, Arcom (sediada em Minas Gerais), alertaram sobre a alteração no valor das mercadorias. Afinal quem distribui em São Paulo e compra mercadorias de outros estados paga a diferença da tributação, e por outro lado quem efetua vendas interestaduais alerta para o acréscimo no valor da nota na hora do faturamento.

“Hoje não compensa mais eu comprar direto da fábrica, todas estão instaladas fora do estado. Se antes eu comprava uma mercadoria que tinha um imposto menor e descontos fora do estado, hoje é preferível comprar de uma distribuidora local ou de outras fábricas daqui de São Paulo. Porque mesmo com os descontos, negociar fora acaba saindo elas por elas, e comprando aqui tenho pronta entrega”, declarou Dilma.

Sérgio Rocha, pós-graduado em Marketing e professor do curso de Administração de Empresas, mostra como solução uma adaptação para uma nova forma de trabalho, com o repasse do custo adicional aos clientes, “porque assim você estará agindo corretamente, dando a possibilidade do governo ter uma arrecadação e evitando a sonegação”.

Vanderlei* (nome fictício), vendedor de mercadorias contrabandeadas provenientes da região central, disse que a nova legislação sobre tributação passou longe de seus negócios, mas a crise econômica mundial o afetou seriamente. Ele estima que ouve um aumento de aproximadamente 50% no valor de seus produtos e uma queda próxima de 30% em suas vendas.

O fenômeno da crise econômica mundial teve um efeito arrebatador. Kendi tentou segurar os preços, porém a instabilidade do dólar provocou um aumento gradativo no custo-final. Lúcia disse que o período é de incerteza, mas que seus hábitos de compra não mudaram em virtude da crise.

Alguns comerciantes, porém, reclamam da falta de determinadas mercadorias ou do aumento muito brusco de seus valores. Algumas empresas paralisaram as vendas até que haja uma definição no cenário econômico. Dilma acha que algumas fábricas estão segurando seus produtos até que aconteça uma valorização.

Sérgio Rocha, assim como Dilma, faz uma previsão de que tudo será mais difícil no primeiro semestre de 2009. Afinal as vendas estão aquecidas por causa das festividades do final de ano, após esse período o comércio inicia um período de estagnação, infelizmente, pior do que o nos anos anteriores.

Para evitar maiores danos aos negócios, Rocha diz que não é tempo de estocar mercadorias, e sim, de esvaziar grandes estoques para que, no ano que vem, os varejistas tenham capital para negociar com os novos preços.
Portanto gire, negocie, faça promoções. Boas vendas!


O que é Substituição Tributária?

A Substituição Tributária (ST) é, pela forma em que é aplicada hoje, o adiantamento do recolhimento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Ou seja, o tributo não é mais pago nas diversas etapas do processo, e sim diretamente pelo fabricante, que repassa este aumento de custo para o valor de suas mercadorias. Este regime visa o recebimento adiantado e o aumento da fiscalização, afinal o número fabricantes é bem menor do que o número de atacadistas e varejistas. Sérgio Rocha, pós-graduado em Marketing e professor do curso de Administração de empresas, diz que “havia por parte do governo um déficit operacional muito grande para uma arrecadação perfeita e esta legislação surgiu para sanar este problema” Outra característica é o sistema de recolhimento da diferença do imposto entre as mercadorias provenientes de outros estados. Assim compras interestaduais privilegiadas por bonificações e reduções tributárias deixam de ser vantajosas.

W. Eugene Smith: Um fotógrafo humanista

Por Akio Uemura


William Eugene Smith nasceu em 1918, Wichita, Kansas. Começou a fotografar aos 15 anos para dois jornais locais e formou-se na New York Institute of Photography.

Porém sua profissão começa a tornar-se interessante quando é convocado para ser correspondente na II Guerra Mundial. Durante este trabalho registrou a ofensiva norte-americana contra os japoneses, porém durante uma cobertura foi atingido por estilhaços de um míssil tendo o rosto bastante ferido.

"I forgot to duck but I got a wonderful shot of those who did... my policy of standing up when the others are down finally caught up with me."

Após dois anos de tratamento, cirurgias plásticas e muitas dúvidas sobre o futuro do fotógrafo, Smith volta ao trabalho ainda mais inspirado em defender seus ideais de “fotografia humanística” (“humanistic photography”).

“The world just does not fit conveniently into the format of a 35mm camera.”

Neste período filiou-se a Magnum Photos (1955) e em 1957 tournou-se membro cativo. Era tão dedicado ao fotojornalismo que era conhecido como um “trabalhador incansável” (“troublesome”) pelos colegas de profissão. Sua preocupação com a fotografia era tanta que quando morreu em 1978 de enfarto tinha apenas US$18 no banco.


“An artist must be ruthlessly selfish.”

Seus retratos transpiram emoções, tanto que os sentimentos dos personagens parecem saltar do papel e tocar quem estiver olhando pra eles. Seu estilo realmente humanizou a fotografia ao tirar o foco da situação, que geralmente era de guerra, conflito, e valorizar o ser humano, independentemente de sua posição ideológica, política, social ou econômica (“amigo”/”inimigo”).
:"Photo is a small voice, at best, but sometimes - just sometimes - one photograph or a group of them can lure our senses into awareness. Much depends upon the viewer; in some, photographs can summon enough emotion to be a catalyst to thought."


Em 1980 foi criado o W. Eugene Smith Fund que promove o legado de Eugene e premiando fotógrafos por suas performances em campo. Os arquivos de W. Eugene Smith estão guardados no Center for Creative Photography emTucson, Arizona.

Cosplay: A arte da admiração

Por Akio Uemura
Fotos: Liz Micheleto/Cosplay Brasil


"Fazer cosplay é uma forma de expressar seu gosto por determinado personagem de animê ou mangá. Mas há muito além disso, através dele as pessoas interagem no meio, fazem amigos e se integram a comunidade de fãs", declaração dada por Fernando Carreno Siqueira, dono do site Cosplay Brasil.

Cosplay é a combinação de duas palavras do inglês, "costume" e "play", que dá nome a uma prática cada vez mais difundida no país. O cosplayer veste-se e age como um personagem de algum livro, quadrinho, mangá, desenho animado, animê, filme, seriado ou game. Essa prática surgiu nos Estados Unidos em meados dos anos 70, onde os fãs de séries de ficção científica, como "Star Trek" e "Star Wars", começaram a fantasiar-se como os personagens da série seguindo a linha "do-it-yourself", "faça você mesmo".

No início dos anos 80, o cosplay migrou dos Estados Unidos para o Japão, conquistando os admiradores de "SciFi" e principalmente os adoradores dos seriados no estilo "Super Sentai" (o mais conhecido no ocidente é o “Power Ranger”). Após um tempo esse comportamento espalhou-se para fãs de outros segmentos, como animê e mangá, tornando-se comum no cotidiano dos japoneses.

A grande massa de cosplayers brasileiros começou a se formar no início dos anos 90, com a chegada dos primeiros desenhos japoneses, animês, de grande repercussão. Afinal o primeiro passo para ingressar nessa arte é gostar dos personagens e entender o contexto em que vivem.
Liz Micheleto é bancária, mas em suas horas vagas faz o que mais gosta, fotografar. Ela é uma das principais fotógrafas de cosplay de São Paulo, cobrindo eventos para o site Cosplay Brasil, maior sobre o assunto no país, e fazendo books dos cosplayers. "Comecei gostando dos clássicos, como 'Cavaleiros do Zodíaco', 'Sailor Moon', depois vieram 'El Hazard', 'Sakura Card Captor' e, atualmente, 'FullMetal Alchemist', 'Death Note', 'Naruto', 'One Piece' e 'Claymore'", rememora Liz ao admitir sua preferência pelas animações.

"Valores", palavra usada pela fotógrafa para explicar seu interesse tão grande pelos animês e mangás. "Não é uma violência gratuita, em cada animê você recebe cargas de valores. Valores de amizade, família, honra... Não são só pessoas com super-poderes, são pessoas que sofrem, que choram, que possuem dilemas a serem quebrados", justifica e completa: "muitas vezes já me emocionei assistindo animês".

Assim como Liz, Fernando, primeiro conheceu o universo dos quadrinhos japoneses e suas respectivas animações para depois mergulhar no mundo do cosplay. Este engenheiro da computação tem uma visão complementar sobre o motivo que leva uma pessoa a gostar do assunto: "Quando você assiste animê e lê mangá pela primeira vez, é como se um mundo novo se abrisse. Há dezenas de gêneros e centenas de títulos que exploram histórias e personagens. Tudo com riqueza de detalhes, personagens cativantes e, principalmente, variedade de temas abordados", relata Fernando.

No Brasil muitos eventos foram criados, como o Anime Friends, que em 2007 reuniu mais de 5000 cosplayers em seis dias de evento. A divulgação da prática profissionalizou as técnicas e apresentações, atraindo cada vez mais praticantes. Assim o Brasil se destacou no cenário internacional, garantindo participação no World Cosplay Summit, WCS, que em seu primeiro ano, 2006, venceu a competição com a dupla de irmãos Psy e Monica. No ano seguinte os representantes brasileiros foram o casal Vingaard e Yuki, que não tiveram a mesma sorte.

Segundo Fernando, "a expectativa é que a atividade ainda cresça bastante ao logo deste ano, especialmente por causa do Centenário da Imigração Japonesa e da promessa de novos campeonatos internacionais no Brasil".

"The book is on the table" - O ensino da língua inglesa

Por Akio Uemura


“Tem professor aqui que engole conhecimento e vomita burrice”. Essas foram as palavras ditas por um aluno que comoveu Rosa Bossa, mestra na área da educação e diretora de um colégio particular. A partir de então começou a investir mais na formação de seus professores e procurar soluções novas para matérias conhecidas como críticas, como física, química e inglês.

As instituições públicas e particulares esforçam-se para que os alunos tenham uma formação eficiente nas matérias que compõem a grade curricular através de aulas de reforço, cursos técnicos e extracurriculares. Porém uma disciplina considerada marginal por professores, alunos, coordenadores e diretores é a língua estrangeira, mais especificamente o inglês.


“Nunca aprendi nada além do verbo ‘to be’!”, declara Érica, estudante do 3º ano do ensino médio em uma escola pública de São Paulo, e completa, “desde que eu comecei a ter aula de inglês sempre aprendi a mesma coisa, os professores não têm motivação”. Declaração muito semelhante à de Elaine Trevisan de Souza, assistente de coordenação de uma escola de idiomas, “muitas vezes contratam professores de português que viram inglês na faculdade por serem obrigados, fazendo com que não tenham vivência e didática para o ensino da língua”, citando a falta de professores para matérias de maneira específica nessas instituições e novamente o caso do verbo “to be”.

Por outro lado a aluna Érica lembra que seus colegas de classe muitas vezes não têm interesse nas aulas, por acharem que o conhecimento de uma língua estrangeira é desnecessário para seus futuros. Desinteresse é a justificativa que a professora Rita de Cássia, colégio particular e público, usa para tamanho desprezo e descaso com a matéria. “Nós tentamos levar coisas novas e interessantes para a sala de aula, tanto no estado quanto no particular, porém lidamos com a falta de recursos, escassez no tempo e a falta de atenção dos alunos”, lamenta.

A mestra em psicologia, Regina Bossa, explica que o jovem é preparado no dia-a-dia através das esferas cognitiva, afetiva e social. E a formação de um cidadão íntegro depende, principalmente, de sua base familiar, prejudicada pela contemporaneidade e suas mudanças político-sociais. Assim, independentemente do material utilizado ou do educador, o envolvimento e o comprometimento do aluno é muito mais importante.

Sukiyaki - Comer e Ouvir

Por Akio Uemura


“Sukiyaki” é um prato camponês típico da culinária japonesa servido geralmente em dias frios. Sua característica mais marcante está no preparo do alimento, afinal o “sukiyaki” não foi criado para ser apreciado de maneira solitária. Uma panela e um fogareiro dispostos no centro de uma mesa onde todos se servem e repõem os ingredientes é a melhor forma de descrever o “sukiyaki”. Ele é uma experiência coletiva cujo objetivo é de reafirmar os laços familiares, afetivos e de amizade através da mesa, resguardando a cultura e tradição japonesa.

Outra coisa relacionada a esse nome é a música “Ue wo muite arukou”, mais conhecida como “Sukiyaki (Song)”. A canção interpretada por Kyu Sakamoto foi a única música em língua japonesa que conquistou a primeira colocação no “Billboard Pop Charts” em 15 de junho de 1963. Lançada pela Toshiba – EMI no Japão, Capitol nos Estados Unidos e HMV na Inglaterra, vendeu mais de 13 milhões de cópias internacionalmente.


Versão em japonês

Logo ganhou reconhecimento de inúmeros artistas que regravaram versões em inglês, espanhol, português e francês. Foi a versão feita na Inglaterra que ganhou o título mais conhecido, “Sukiyaki”, afinal o original era difícil de ser lembrado e pronunciado.

No Brasil ganhou o nome de “Olhando Para O Céu”, interpretado pelo Trio Esperança:


Versão em português

"Olhando para o céu
Eu sigo a caminhar
Onde estará meu amor
Em que estrela está
Todo esse bem que eu perdi
E que em vão tento encontrar.
Olhando para o céu
Estrelas me dirão
Que é bom sonhar
Ter alguém, que sonhar faz bem,
E até no céu fazem par
Os meus sonhos e os seus.
Há no meu olhar uma lágrima triste
Que não quer deixar
Que eu me esqueça de alguém
E eu sigo a caminhar
Tentando não chorar
Quero encontrar numa estrela
Esse alguém, meu bem
Que eu tanto amei, que se foi
E que um dia há de voltar."



Uma compilação das várias versões

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Sexo frágil. Quem foi que disse?

Por Rogério Santana

As mulheres brasileiras provaram que o sexo feminino de frágil não tem nada. Pela primeira vez na história olímpica brasileira uma mulher conquistou uma medalha em esporte individual. Coube a judoca Ketleyn Quadros abrir as portas do pódio para que suas compatriotas fizessem estragos nas Olimpíadas de Pequim, na China.

Após o brilhante resultado do judô foi a vez da dupla Isabel Swan e Fernanda Oliveira conquistarem a primeira insígnia para a vela feminina do Brasil. O esporte que mais contribui para o esporte olímpico nacional com 16 medalhas viu nas águas de Qingdao a estréia das mulheres verde-amarelas no pódio do iatismo.

A derrota para as americanas no futebol, pode ter sido o maior sofrimento da delegação feminina brasileira nos Jogos. O time de Marta, Cristiane e Cia. tinha tudo para sair da China como campeã olímpica, mas como no esporte é preciso saber vencer e perder, as meninas do futebol mostraram que para chegar à final é preciso garra e coragem, sentimentos que muitas vezes os homens não demonstraram.

Mas após três medalhas bronzeadas, chegou o auge e ele não poderia ter escolhido uma pessoa melhor para representar a garra da mulher brasileira. Maurren Higa Maggi, depois de dois anos suspensa acusada de doping, a atleta de São Carlos voltou à pista e marcou um feito para o esporte feminino brasileiro. Com sua medalha de ouro no salto em distância, Maurren tornou-se a primeira mulher do Brasil a vencer uma prova individual em uma competição olímpica.

Para coroar a participação feminina de nossas atletas em Pequim, no penúltimo dia de competições, a campeã mundial de taekwondo Natalia Falavigna conquistou o oitavo bronze brasileiro na China.

Após uma semifinal conturbada e a decisão dos juízes, que levou a coreana naturalizada norueguesa, Nina Solheim à final, Natalia mostrou a força das brasileiras e conquistou o bronze ao vencer o combate contra a sueca Karolina Kedzierska.

Mas, o melhor ainda estava por vir. Sem medo de comparações a melhor seleção brasileira feminina de vôlei, chegou à final contra as americanas, credenciadas como favoritas, afinal não haviam perdido um set sequer em sete partidas disputadas.

Porém do outro lado da quadra estava a seleção americana conhecida por sua garra e determinação. Mas, não teve quem segurasse Sheila, Mari, Fabiana, Fabi, Walewska, Fofão e Cia. Com maestria as brasileiras deram um show e após quatro Olimpíadas parando na semifinal, o Brasil venceu por 3 sets a 1 e consagrou-se campeão olímpico de voleibol.

Seria injusto se falássemos da participação feminina nos jogos lembrando apenas das medalhistas, não podemos jamais esquecer da grande Edinanci Silva. Em sua quarta Olimpíada a judoca chegou bem perto de medalhar, mas bateu na trave ficando em quarto lugar.

A mesma posição das valentes Renata e Talita, do vôlei de praia, que enfrentaram nas semifinais, simplesmente as bicampeãs olímpicas e super-favoritas, as norte-americanas Walsh e May. Mesmo com muita garra as brasileiras perderam a medalha de bronze para a dupla chinesa Xue e Zhang Xi, mas não perderam a esperança de voltar a uma Olimpíada em Londres – 2012.

Provando que não estavam de brincadeira em Pequim, as atletas do revezamento 4X100, uma das provas mais nobres do atletismo, foram surpreendentes e chegaram bem próximo à medalha, um quarto lugar com valor de pódio.

As Olimpíadas de Pequim vão deixar inúmeros ídolos como o fantástico Michael Phelps e suas oito medalhas de ouro, mas parabéns as mulheres brasileiras que mostraram do outro lado do mundo a força de guerreiras que são. E parabéns ao povo brasileiro que pode se orgulhar de ter como compatriotas mulheres que fizeram história.

sábado, 12 de julho de 2008

Literatura - Um poeta na contramão

Por Cézar Katsumi

Reynaldo Jiménez desafia o leitor pós-moderno. Seus poemas, com sintaxe e pontuação irregulares, requerem uma leitura cuidadosa – e releituras, na maior parte das vezes. Assusta logo de cara aqueles que estão acostumados aos coloquialismos e clichês que pululam nas produções literárias pós-modernas. No entanto, somente alguém inserido nessa cultura alimentada e renovada a todo instante por informações advindas dos quatro cantos do mundo é capaz de decifrar o universo de signos e referências presente nos versos cuidadosamente lapidados por Jiménez.

Seus poemas deixam transparecer um vasto repertório cultural do poeta materializado nas citações que transitam de clássicos como Cândido, de Voltaire, a filmes como o japonês Balada de Narayama, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1983. Mas algumas referências passariam batidas pelo leitor brasileiro. É o que ocorre na obra Las Miniaturas (1987) em que Jiménez cita passagens de cantos pré-colombianos e de autores latino-americanos importantes, mas pouco conhecidos pelo público brasileiro, como o peruano Jorge Eduardo Eielson e o colombiano Germán Arciniegas.

Eléctrico y despojo, lançado pela editora portenha Trocadero em 1984, reúne 28 poemas escritos por Jiménez entre 1980 e 1983. Essa é certamente uma das obras em que Jiménez concentra-se mais no universo sensorial. Os poemas se erigem a partir de um rico inventário de experiências sensitivas – marcado principalmente pela visão, tato e audição – e põem à tona um estado fluido de inconsciência, de extrema fertilidade criativa, em que se misturam imagens idílicas tal como num quadro surrealista.


no hay regreso las ramas
cimbran el silencio en unos
ojos que se esperan o convierten
en el brillo
en la llave de las águas

aunque es tarde pero suenan
en la bolsa de la noche las agujas
la sangre escapa
la música una palma cerrada

pero aprieta sus mandíbulas el cielo
las cabezas cortadas de los árboles

aunque nada sople tiembla el sueño
de las aguas como un cuerpo
que ha empezado a
respirar


Assim como as imagens que apresenta, é como se os versos e as palavras ganhassem vontade própria e buscassem explorar, à sua maneira, o espaço físico no papel. Na primeira metade do livro, é mais que evidente a influência de Mallarmé e seu lance de dados na forma como os versos e as palavras se distribuem ao longo dos poemas. A sintaxe é praticamente solta e, em alguns trechos, faz-se a presença de “metáforas visuais” ao melhor estilo concretista de Haroldo de Campos.


por la línea

pesa el
sol
o
pasa
o
el eco
esconde

algo que
te suelta
algo
deseándote
o
perdido

se anuda
al
aliento y
entra el
día
o

se
va


Jiménez é considerado por muitos teóricos um expoente da poesia neobarroca na América Latina, ao lado do cubano José Kozer e de poetas de peso no Brasil como Haroldo de Campos e Paulo Leminski. A corrente literária, ao trazer a referência do movimento seiscentista, busca contrapor-se, sobretudo, ao racionalismo e logocentrismo da poesia contemporânea em prol de uma polifonia de vocábulos, desarticulando o discurso linear com o uso de elipses, pontuações inusitadas e sintaxe irregular. Jiménez, contudo, refuta uma classificação estanque à sua poesia. “Diria que recentemente estou começando a vislumbrar um desdobrar minimamente racional sobre o neobarroco; não sou um especialista em definições, nem teórico, de modo que me meter com isso, onde por outro lado estou efetivamente envolvido, não é algo fácil.”

Definições à parte, a poesia de Jiménez é uma pedra no sapato da pós-modernidade, ao colocar em crise o culto ao imediatismo e às banalidades que corroem a poesia contemporânea desde seus miolos. Apesar de pouco reconhecida pelo público, somente uma poesia como a de Jiménez parece ser capaz de andar na contramão desse processo contínuo de degradação: é densa como um diamante, mas, ao mesmo tempo, irregular e bela como uma autêntica pérola. Aos porcos.

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